Novo Progresso (28/08/2012) - Há quase dois
meses uma névoa branca cobre a cidade de Novo Progresso, no oeste do Pará.
Centro de uma região que concentra mais da metade dos desmatamentos deste ano no
Pará (leia mais aqui), a população agora
convive com a fumaça frequente das queimadas não controladas e dos desmates
ilegais que usam o fogo para dar fim à floresta derrubada.
Contratados pelo Ibama, 15 jovens de Novo
Progresso formam a brigada do Prevfogo local encarregada de impedir que o fogo
saia das pastagens e dos desmatamentos irregulares para as florestas protegidas
da região (a Floresta Nacional do Jamanxim e de Altamira; e as terras indígenas
Baú, Kuru Ya e Menkragnoti).
Só este mês, a brigada do Prevfogo já controlou
11 incêndios, impedindo que o fogo chegasse ou se espalhasse nas matas. Foram
1,5 mil hectares de florestas e pastos queimados, mas o estrago teria sido muito
maior sem a intervenção dos brigadistas. De janeiro a agosto de 2012, a região
de Novo Progresso, que inclui parte do sul de Altamira e Itaituba, registrou
mais de 1,7 mil focos de calor, mais de duas vezes o acumulado no mesmo período
de 2011, quando houve 763 focos.
Nesta segunda-feira (27/08), o coordenador do
Prevfogo no Oeste do Pará, Daniel Benlolo, solicitou reforços ao Ibama para
apoiar a brigada de Novo Progresso. Nos próximos dias, deverão chegar à região
mais sete brigadistas de Itaituba, sete de Altamira e 30 do Rio de Janeiro para
impedir o avanço das queimadas.
"Estão ocorrendo danos graves ao meio ambiente,
que também prejudicam diretamente a saúde da população da região. Vamos concluir
as fiscalizações, autuar e embargar as propriedades que iniciaram estes
incêndios", afirma o coordenador da operação Labareda, o analista ambiental do
Ibama Paulo Maués, que lidera uma ação conjunta de fiscalização na região desde
o dia 14 de agosto, da qual participam Secretaria de Meio Ambiente do Pará,
Ministério do Trabalho e Emprego, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Militar do
Pará e Força Nacional.
Sobrevivente: timborana de 50 metros
No sábado (25/08), a prefeita de Novo Progresso,
Madalena Hoffmann, sobrevoou a cidade à convite do Ibama. Ao retornar, disse ter
ficado surpresa com o que viu. "Vamos tentar motivar a sociedade para ajudar a
modificar esta realidade", disse ela.
Novo Progresso ainda não possui Corpo de
Bombeiros nem uma brigada própria para combater incêndios e auxiliar a população
a lidar com as queimadas, ainda muito utilizada como técnica de manejo de
pastagens de gado na região. Todos os anos, o município depende da chegada das
brigadas do Prevfogo, contratadas pelo Ibama por cinco meses, de junho a
novembro, para atuar no período crítico de estiagem.
Em 2011, o Prevfogo fez palestras e
demonstrações aos produtores rurais de Novo Progresso, principalmente em áreas
críticas e assentamentos, orientado-os como proteger os pastos do fogo. Uma das
medidas eficazes contra os incêndios é fazer aceiros - uma espécie de valeta de
terra nua aberta em volta dos pastos.
Nesta segunda-feira (27/8), no entanto, após
percorrer 150 km na Vicinal Marajoara, em busca de um acesso para apagar mais um
incêndio, a brigada do Prevfogo encontrou apenas uma única fazenda protegida com
o aceiro. Os brigadistas de Novo Progresso, neste mesmo dia, se surpreenderam ao
achar uma timborana de cerca de 50 metros de altura, numa área de exploração
ilegal de madeira. “O triste é pensar que podemos voltar ano que vem e não
encontrar mais ela aqui”, disse Edivan Alves da Silva, 27 anos, que com mais 11
brigadistas, tentou abraçar a árvore centenária.
Nelson
Feitosa
Jornalista e Analista Ambiental
Assessor de Comunicação do Ibama no Pará
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Floresta queimando-Foto IBAMA |
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